MÓDULO III

Bufões:

uma
confraria trágica

„Os Bufões não acreditam em nada e zombam de tudo, inclusive dos valores arraigados. Os Bufões atingem o grande território da tragédia.“

Jacques Lecoq.

Ao dar corpo às nossas angustias, aos nossos mitos, ao cinismo, encontramos a distância necessária para poder jogar com todos os temas. Nos tornamos CRIATURA e, desta forma, encontramos nossa “loucura”, que não é nada mais do que nossa CRIATIVIDADE.
A infância: mergulhamos no universo infantil, mas de um modo diferente do proposto no exercício de ‘‘quarto da infância’’ da máscara neutra, onde o adulto retorna ao seu quarto, redescobre o espaço de sua infância, ou, como acontece no Clown acessa o criança que cresceu em si.
No universo dos bufões  buscamos ser um outro tipo de criança, aquela que é má e quando tem entre 6 e 11 anos, arranca as asas dos insetos e destrói o castelo de areia dos amigos.
Através da deformação dos corpos, descobrimos:

O primeiro bufão

Enxergamos através destas criaturas a nossa própria condição: a condição humana. Ao investigar a humanidade das minorias: as deformações, as dores, os sentimentos e a poesia. É como se estivéssemos esculpindo com o próprio corpo o nosso inconsciente. Assim, tudo se torna concreto e palpável. Criamos desta forma uma máscara de corpo inteiro.

O mundo dos mistérios

Quanto mais nos direcionamos para os deformados, os monstruosos, os seres míticos, mais nos aproximamos da condição humana, da existência em si. Exploramos o mundo dos mistérios, estes seres que vivem na neblina do tempo, entre o céu e o inferno. Com exercícios emprestados do Kathakali e de Grotowski, buscamos explorar os terrenos incomuns dos corpos e explorar os rituais. Assim:
– trabalhamos com o inconsciente coletivo descrito por C.G. Jung: a viagem através das almas de cada um.
-encontramos a poesia, a música, a pintura, como um caminho para expressar estes mistérios. Vamos de encontro a Dante, Rimbaud, Artaud, Brugel, Bosch. É neste ponto que encontramos os arquétipos da existência humana:

A tragédia.

A tragédia grega encontra suas raízes em cultos tribais. A dança de Bouc onde os personagens tinham falsos ventres e dançavam todos unidos em volta de um círculo. Foi nesta atmosfera que o primeiro ator  e o coro nascem e, enfim, o herói trágico. É a evocação dos arquétipos e da existência humana.

O universo do grotesco e do fantástico

Esta etapa permitiu levá-los a analisar a vida cotidiana dos tempos atuais e, desta maneira, nós podemos reavaliar nossa época e jogar com tudo o que constitui a história humana: a doença, a religião, a beleza, o poder, a ciência, a violência… Os bufões não temem a nada.
Eles incarnam nossa sociedade, abordam temas como o poder, a ciência, as religiões seguindo regras estritas ao seu universo: o mais louco dos loucos está no topo e declara guerra ao mundo e ao seu modo de vida.
Os bufões pertencem ao império da loucura, esta mesma loucura que nos protege e nos permite dizer a verdade. Aceitamos de um louco o que não aceitaríamos jamais de uma pessoa dita normal. Perdoamos aos loucos o que não perdoaríamos aos outros. Nós o escutamos como que a um rei. Graças a essa viagem ao universo dos bufões, nós descobrimos novas ferramentas de trabalho para alcançar nosso objetivo: nos tornarmos atores livres em todas as fases de nossa criação e percepção de mundo.
Finalmente, compreendemos que o universo dos bufões é uma verdadeira travessia através do inconsciente e esta travessia é necessária para a formação do ator. Com o objetivo de considerar o mundo de hoje tendo como ponto de vista crítico a visão de mundo dos bufões é um excelente meio para alcançar o extraordinário.